14.5.07

teus olhos impacientes e irrealizáveis...

claude monet
(...)
já não conheço o caminho para o tempo antigo. abro as mãos e as palavras revelam-me mortíferos mistérios.
Saskia e as memórias. deixou-as cair no regaço e olhou a tela. suavemente, os versos formaram-se nos lábios vazios: pela neve sem rasto/caminhou/aquele que busca um amor. o poeta, preenchendo a incerteza dos passos.



(título e excerto, José Tolentino Mendonça)

2 comentários:

Castro L. disse...

TO NO ONE: HOMERO

Nas veredas cromáticas de uma superfície, uma linha invisível apresou-te os olhos impacientes. Raptou-se o olhar.
Astigma alvo, que me exauriu, a mim, no carril onde as vistas medram turvas e apressadas e onde vivem as cores e voltas que não posso ver. Apenas sombreados de forma, divinhados no tumulto de vozes que alcanço atender no sono. E ali percepciono um grémio de letras, que, como gravuras animadas, compõem uma tela que reclama moldura, ofertada ao conforto de um regaço da ante-vigília, para depois serem todas morredoiras, desfeitas nos dias. Letrada de dedos, cabelos, seios, lábios, nariz… enquanto duram…
Os teus olhos irrevogáveis, acoitados e cativos em duas dimensões mais uma, já não logram enxergar, senão a cinemática que palpita no andamento de um sonho, na marcha agitada e urgente de um tempo implacável marcado pelo cruzamento dos ponteiros do relógio do acordar, em desvalimento de uma ânsia purpurina e dúctil que procuraria a sua morada, para resgatar o olhar.
Os teus olhos impacientes, quando te roubaram o olhar que ainda disputas, devieram inclemência no sono, e passaste a escutar a música do mundo com a visão, os sons do universo bramindo dentro, palpitando o próprio corpo sonhado. Uma captura de inspiração fecunda: respirar o próprio odor – essência - para reassinar uma identidade.
Já só vemos o invisível, quando, com urgência, corremos a refazer os bocados, os despojos de uma invenção, com os olhos realizáveis ainda não realizados. Enquanto isso, marejam, na irresolução de não entenderem as silhuetas e o seu lugar.
Talvez cerrados na imersão fantasiosa.

fernanda disse...

Lindo!